Para aqueles que me conhecem, o jornalismo sempre foi uma relação de amor e ódio na minha vida. Ganha mal, falta emprego, toma esporro, stress, pressão... porra de vez em quando bate um desespero que eu me pergunto: será que vale a pena? O que nos motiva?
A primeira vez que eu senti o tesão pela coisa, foi durante a faculdade quando tinha acabado de comprar a minha primeira câmera, uma canon AE-1, corpo de metal e pesadona. Pois bem, tinha saído para fazer algumas fotos pela zona sul quando parei por Ipanema para tomar um suco.Dentro da lanchonete vi uma monte de gente correndo desesperada, parecia um arrastão. Sem pensar muito peguei a câmera e comecei a correr em direção oposta da multidão. Na hora eu pensei: - O que eu estou fazendo aqui, o que devo fazer?, mesmo assim continuei correndo em direção à praça Nossa Senhora, que parecia ser o centro do tumulto. Chegando lá uma porradaria generalizada entre políciais militares, ambulantes,guardas civis e feirantes tomava parte da praça e da rua. Era um tal de caixote voando, pedaço de pau, cacetete pra cá e eu, literalmente, no meio desse caos, de chinelo,tirando fotos!!
Na hora, a adrenalina vai a mil e as coisas ficam muito claras, naquele momento você passa a enxergar através do visor, filtrando as emoções que possam atrapalhar a busca DAQUELA FOTO, que não sei qual é, mas que aparece na hora certa e no momento certo. A imagem mais marcante daquele dia foi quando, no meio da multidão, naquele desespero de tirar as fotos eu viro bruscamente e paro em frente de um policial que apontava uma 45 prateada. - Perdeu playboy!, foi o pensamento e fiz a foto. O policial não estava apontando pra mim, mas para um feirante com uma faca na mão. Depois desse momento resolvi que era hora de sair de cena. As pernas tremiam sem parar e só voltaram a funcionar depois de uns bons 20 minutos. Depois que as funções básicas voltaram ao normal, fui direto para uma loja revelar o filme. A atendente, com uma cara de desdém me pergunta: - Nem, você pega as fotos amanhã ou eu revelo em uma hora?, não ia aguentar esperar tanto tempo...Na cabeça, já imaginava as fotos nos jornais, primeira capa e de como eu era sortudo de logo nas minhas primeiras sessões conseguir registrar imagens tão dramáticas.
60 minutos eram o que me separavam para o sucesso e eles não iam desistir tão fácil, cada minuto demorava cinco e assim sucessivamente... até que a atendente voltou, com a mesma cara de bunda, e me disse: - Nem, as fotos não puderam ser reveladas, nenhum negativo foi usado.
-Como assim o negativo não foi usado, eu mesmo prendi o filme!!, me desesperei.
- Não Nem, você tem que prender assim ó. E lá foi ela me explicar como eu deveria ter posto o filme. (Quem já teve uma câmera dessa, deve se lembrar que para prender o filme você tem que dobrar a ponta do negativo para que ele prenda melhor e não corra o risco de não puxar o filme)
Arrasado, com o sonho de me torna o próximo Sebastião Salgado destruído, um único pensamento pairava sobre a minha cabeça:
- Maldito Foca!!!!